O sindicalismo na era do whatsApp
Ver algumas cenas, em filmes ou séries, que retratam a luta dos jovens abolicionistas, na época do Império, impressiona muito. Com garra e determinação, aqueles jovens, apesar das dificuldades, não mediam esforços para realizar o enfrentamento com as forças das oligarquias, representadas pelos barões do café e pelos conservadores da época. Eram muitas as dificuldades e sem dúvida alguma as maiores a serem enfrentadas eram a opressão e a falta de liberdade de imprensa. Mas, mesmo assim, aqueles jovens abolicionistas não se intimidavam e buscavam forças no imaginário, superando suas próprias limitações – o trabalho da gráfica era muito precário e o corpo a corpo para distribuir os informativos e os jornais censurados era muito difícil, pois colocava em risco a própria vida daqueles que assumiam a causa abolicionista.
Mas, fazendo uma análise da conjuntura atual, que envolve o movimento sindical, estamos vivendo momentos de grandes ameaças à classe trabalhadora, onde conquistas históricas podem ser atacadas, consumando uma retirada de direitos, uma vez que na ordem do dia estão as reformas trabalhista e previdenciária.
Mas o que devemos fazer para evitar que isso venha a ocorrer?
A resposta não é muito difícil, a grande dificuldade é colocar em prática.
Nós temos que colocar o povo nas ruas. Isso mesmo, colocar o povo protestando contra esses absurdos.
Mas como fazer? Como mobilizar? Nos dias atuais nós não temos as dificuldades dos abolicionistas, pois não paira sobre nós as ameaças físicas e nem o cerceamento da liberdade de opinião. E os avanços da tecnologia de informação nos possibilitam a entrar em contato com várias pessoas num curto espaço de tempo, pois a internet, o facebook e o whatsApp são ferramentas maravilhosas.
Porém isso não é tudo, só significa a agilidade no processo. Não podemos relevar a um segundo plano o corpo a corpo, pois o contato direto entre nós, meros mortais, é e continuará a ser a melhor forma de convencimento da massa. Passar um “zap” é muito fácil, postar ou curtir no “face” é mais fácil ainda, mas para ter a certeza do convencimento só mesmo o corpo a corpo, a velha panfletagem, a conversa direta, o olho no olho, e o mais importante: ouvir as críticas e os desabafos de uma sociedade cada vez mais massacrada.
Não podemos nos iludir que ao disparar uma mensagem pelo whatsApp tudo está resolvido, pois as pessoas são massacradas a todo o momento por inúmeras mensagens que nem sempre são informações verídicas – e aí, outra questão se coloca: não sabemos se ao ler as mensagens no whatsApp estamos mais informados ou desinformados. Além disso, está cada vez mais comum nas atividades sindicais os presentes desviarem suas atenções (para o “zap”, para o “face” e outras ferramentas) em momentos cruciais, perdendo assim o aprendizado aplicado ao vivo.
Diante de um quadro rodeado de ameaças, os sindicatos, as federações, as confederações, as centrais sindicais e os movimentos sociais com um todo não podem e nem devem esquecer a velha panfletagem de rua, pois se acharmos que postar no “zap” ou curtir no “face” está resolvido, pobre de nós, pois aí serão as forças dominantes que irão curtir com a nossa cara.
A luta tem pressa.
Cosme nogueira
Presidente da FESERP-MG