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Joaquim Levy, volte para Chicago

Após se lançar numa aventura suicida, cortando direitos trabalhistas e sociais para atender aos caprichos dos operadores do mercado financeiro instalados na equipe econômica – distanciando-se do projeto de combate à miséria pelo qual lutamos e defendemos -, integrantes do primeiro escalão do governo partiram para a chantagem explícita contra o povo e aliados que mantiveram seus princípios.

Um dia após a votação da MP 665, que corta o direito de os trabalhadores acessarem o seguro-desemprego, seguro-defeso e abono salarial, o senhor ministro da Fazenda, Joaquim Levy, teve a desfaçatez de insinuar restrições nos programas sociais, caso o Congresso Nacional não chancele a sua proposição de aviltar os direitos sociais e o programa de desoneração que promoveu a geração e formalização de milhões de empregos.

Além de mais uma vez contradizer a presidente Dilma Rousseff, Levy reafirma a sua posição de sabotador do governo, de inimigo dos trabalhadores e do setor produtivo, restando-lhe a triste qualificação de agente dos especuladores.

Se o governo pretendia cortar cerca de R$ 18 bilhões do Orçamento, não precisaria fazê-lo através da criação do Fator Previdenciário para as viúvas, da terceirização da perícia médica, do aumento da criminalidade entre os jovens que não mais terão o seguro-desemprego, do desamparo aos pescadores, dos trabalhadores rurais, dos pobres deste país.

Se a desoneração da folha de pagamento, que gerou empregos e arrecadação indireta para o governo, precisa ser cortada para não atingir o programa “Minha Casa, Minha vida”, afirmamos que o ministro está inteiramente equivocado, pois existem maneiras mais justas de economizar. Não precisa minar os programas, muito menos os princípios que sustentam este governo.

O senhor Levy sabe que a redução de 1% na taxa de juros (Selic) representa uma economia de mais de R$ 25 bilhões ao ano; que o aumento dos impostos funciona como um freio para o crescimento econômico (1% da carga de tributos reduz o PIB, no longo prazo, em até 3,8%, como mostrou estudo do Ipea); que a taxação das grandes fortunas renderia ao governo mais de R$ 100 bilhões ao ano; que a pensão ilimitada das filhas de militares consomem mais de R$ 5 bilhões ao ano; que a corrupção, falta de fiscalização, sonegação, entre outros desvios, drenam bilhões dos cofres públicos.

Se é possível cortar dos ricos e do sistema financeiro, por que punir os pobres, as viúvas, os trabalhadores? A explicação só pode ser a de mostrar aos especuladores que o governo, eleito pelo povo pobre deste país, tem coragem de chicotear esta parcela da população para obter índice de credibilidade. É o mesmo que matar o melhor amigo para tirar nota seis na escola.

Talvez o ministro Levy não tenha dimensão do efeito de sua aventura. Mas saiba, ministro, que o senhor humilhou parlamentares que possuíam uma história em defesa dos trabalhadores e dos direitos sociais. Obrigou-os a romper com seus princípios. Lembre-se de que há uma semana os mesmos apontavam o dedo para seus pares, acusando-os de rasgar a CLT. Não deve ser fácil entrar agora para a história como traidores.  Pelo menos uma dezena tentou se salvar, sumindo da Câmara dos Deputados.

O senhor fez com que históricos parlamentares, com suas bandeiras vermelhas em punho, depusessem seus martelos quebrados e seguissem bovinamente para um voto em favor do imperialismo capitalista.

O senhor chancelou de traidores os integrantes dos partidos que tiveram a coragem de se manter fiéis ao projeto que ajudaram a eleger e ainda pode, ministro, macular entidades e pessoas que aceitariam vender os trabalhadores por cargos.

Além disso, o senhor está promovendo a sensação no País de que a presidenta seguiu um caminho inverso ao que prometeu na campanha.

O senhor ainda entregou aos conservadores a bandeira da defesa dos direitos trabalhistas. Ministro, o senhor está ajudando a destruir as conquistas deste país, o desenvolvimento, o ProUni, a exploração do Pré-sal pela Petrobras, enfim, nossas conquistas.

Senhor Ministro, faça-nos um favor, antes que seja tarde, pegue sua panela e volte para Chicago.

Antonio Neto

Presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros)

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