Brasil retoma cuidado multiprofissional no SUS com inclusão de atendimento remoto
Ministério da Saúde anunciou investimentos de R$ 870 milhões e novas áreas nas equipes de atendimento
por Juliana Passos e Nara Lacerda | edição de Thalita Pires
Até o fim deste ano, o Ministério da Saúde (MS) pretende investir R$ 870 milhões para custear a atuação de Equipes Multiprofissionais na Atenção Primária à Saúde (eMulti). A estratégia prevê atendimento ampliado, com participação de diversas especialidades em ações de prevenção, diagnóstico e tratamento.
De acordo com a portaria que estabeleceu a nova política, as equipes eMulti serão compostas por profissionais de saúde de diferentes áreas de conhecimento, atuando de forma complementar e integrada às demais equipes da Atenção Primária à Saúde (APS), em articulação intersetorial com a Rede de Atenção à Saúde (RAS).
Não é a primeira vez que o Brasil estabelece esse tipo de atuação para a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS). Desde 2008, os Núcleos de Apoio à Saúde (Nasf) funcionavam a partir dessa lógica. No entanto, o programa foi desconfigurado na gestão de Michel Temer (MDB), após o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff.
No governo de Jair Bolsonaro o desmonte foi concretizado e as ações deixaram de receber financiamento. Agora, o Ministério da Saúde retoma a política com a expectativa é de que aproximadamente 4 mil equipes multiprofissionais prestem atendimento em todo o território nacional.
Segundo a pasta, o retorno do atendimento multiprofissional foi uma demanda apresentada por estados e municípios e tem peso importante para a garantia do cuidado integral e do acesso à saúde. O secretário de Atenção Primária à Saúde do MS, Nésio Fernandes, afirma que a retomada vai abrir caminhos para territorializar o atendimento.
“Esses profissionais da equipe multiprofissional vão poder atuar tanto na educação permanente como também atender de modo presencial ou a distância com as tecnologias que o Ministério da Saúde vai oferecer na implantação dessas equipes. Então aquilo que sempre pensamos sobre regionalização do SUS, garantia do acesso a temas ligados à integralidade, com a implementação, de fato, teremos esperança de que, mesmo em municípios pequenos ou grandes, a garantia do acesso consiga dar grandes passos ainda este ano.”
A pesquisadora e fisioterapeuta Talita Abi, que estuda o impacto do Nasf na saúde pública brasileira, pontua que a possibilidade de atendimento e atividades remotas é o grande diferencial trazido pela eMulti. Ela considera a retomada do atendimento multiprofissional motivo de comemoração, mas lembre que ainda há desafios a serem superados.
“Com certeza alguns desafios permanecem, inclusive, com relação ao modelo de cuidado. Que não seja centrado no formato clínico e reabilitador por parte dos profissionais e que eles consigam fazer essa ruptura na fragmentação do cuidado, por exemplo. Mas neste momento nós devemos comemorar esse recomeço com as equipes multiprofissionais, principalmente depois do desmonte do Nasf e do enfraquecimento da atenção primária à saúde nos últimos anos.”
As novas equipes eMulti vão contar com cinco novas especialidades em relação à antiga Nasf. São elas cardiologia, dermatologia, endocrinologia, infectologia e hansenologia.
Foto: Valdecir Galor / SMCS
Fonte: Brasil de Fato