Em Minas Gerais, auxiliares de serviços da educação recebem menos de um salário mínimo
“Zema tirou nossos sonhos”, diz trabalhadora. Para denunciar a situação, sindicato realiza paralisação nesta quarta (10)
Por Ana Carolina Vasconcelos | Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG
Além dos professores, diversos outros profissionais são fundamentais para a existência de um ambiente educacional de qualidade. É o caso dos auxiliares de escola, responsáveis pelo cuidado e pela manutenção das escolas, atividades muitas vezes invisibilizadas. Em Minas Gerais, a categoria tem o nome de Auxiliares de Serviços da Educação Básica (ASB). Esses cargos, ocupados majoritariamente por mulheres, têm remuneração de menos de um salário mínimo.
Enquanto o governador do estado, Romeu Zema (Novo), sancionou na última semana a lei que confere o reajuste de 298% em seu salário – que chegou a R$ 37,5 mil por mês – as ASBs ganham aproximadamente R$ 992, o que representa R$ 328 a menos do que o valor do salário mínimo atual.
“O salário que o Zema nos paga não nos permite sequer nos alimentar. Muitas colegas não conseguem levar marmita e acabam precisando comer os restos da merenda escolar. Não estamos dando conta de comprar alimentos”, relata ao Brasil de Fato MG Emília Gorethe Ferreira, ASB de uma escola de Belo Horizonte.
Um levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) demonstrou que, em abril, o preço da cesta básica na capital mineira estava em R$ 654,57, mais de 65% do salário das auxiliares.
Para Emília, a baixa remuneração é consequência da falta de valorização das profissionais por parte do governo mineiro. “O governo tirou nossos sonhos. O Zema nos vê somente como serviçais, que só trabalham, não precisam de salário, não precisam de lazer, não precisam de nada, apenas de trabalhar”, avalia.
Serviços essenciais
Além da limpeza dos espaços físicos, as trabalhadoras também são responsáveis pela alimentação de estudantes e professores, atendem a comunidade e ajudam os docentes durante os momentos de chegada, intervalos e saída dos alunos, entre outras atividades essenciais para o funcionamento das escolas.
“Nós limpamos salas, banheiros, corredores, azulejos e os espaços em geral. Eu também levo todo o material para a sala dos professores, na mão. Também levamos comida e café para os professores. Subo escadas, às vezes com comidas muito pesadas. Tudo que eu faço dentro da escola, faço com excelência. Então, também preciso receber um salário de excelência e respeito”, relata Emília.
Consequências: dívidas e adoecimento
Diante desse cenário, muitas vezes as profissionais precisam recorrer a empréstimos para conseguir pagar as contas e comprar itens básicos, comprometendo ainda mais a sobrevivência das trabalhadoras, que passam a acumular dívidas.
Outro impacto da falta de valorização é o adoecimento das ASBs. Emília conta que existem muitos casos de auxiliares que têm a saúde afetada, devido ao contato com produtos de limpeza durante o trabalho.
“A maioria de nós adoece dentro do trabalho e nem consegue desfrutar da aposentadoria. Muitas vezes, as pessoas se aposentam e logo vão a óbito, por conta do trabalho sem fiscalização e sem vistoria do Estado. Ninguém vai dentro da escola ver como é o nosso dia a dia”, relata.
Paralisação
O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG) convocou uma paralisação das profissionais para esta quarta-feira (10), com objetivo de denunciar a situação. Ao longo do dia, as ASBs realizam uma série de atividades de mobilização na capital mineira.
“Queremos debater a situação de penúria na qual elas se encontram, porque o governo de Minas não paga o reajuste do piso, e elas recebem valores inferiores ao salário mínimo vigente no país”, explica Denise Romano, coordenadora-geral do Sind-UTE/MG. O piso salarial nacional das ASB é R$ 1.242 para 30 horas semanais.
O dia de paralisação começa com uma audiência pública, a partir das 9h30, na Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), convocada pela deputada Beatriz Cerqueira (PT), para debater a condição das trabalhadoras. Mais tarde, às 14h30, acontece uma marcha pelas ruas de Belo Horizonte.
“Quem é responsável pela alimentação, limpeza e pequenos reparos da escola estadual está sofrendo muito com as absurdas condições de trabalho”, avaliou a parlamentar, nas redes sociais, ao divulgar o encontro.
No perfil da deputada, auxiliares enfatizaram a dureza da realidade enfrentada. Uma trabalhadora chegou a comentar que colegas pensam sobre mudar de profissão.
“Minha cidade é pequena e estamos vendo que não teremos pessoas para assumir a função, devido à baixa remuneração. Trabalhar como ajudante para pessoas que pagam para limpar suas casas é bem melhor. Hoje, está em torno de R$ 150 a limpeza diária no município. Pensa e faz as contas para quem limpa uma casa por dia”, relatou.
“Gostaria de ver uma escola funcionar uma semana sem ASB. O que seria? Salas e banheiros sujos. E a alimentação, quem faria?”, questionou outra profissional, nas redes sociais, endossando a convocação para a paralisação.
Sem respostas
O Brasil de Fato MG questionou o governo de Minas sobre os motivos da falta de valorização das profissionais e sobre a falta de reajuste salarial para as ASBs. Não houve resposta até o fechamento desta matéria.
Foto: Rovena Rosa/ Agência Brasil
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Larissa Costa