Pesquisas eleitorais convergem, dão tom a campanhas e podem ser divulgadas até no dia da votação
Contestados por governistas, principais levantamentos mostram convergência de dados. Divulgação pode ser feita até no próprio dia 2. De boca de urna, só após votações estarem encerradas
A uma semana do primeiro turno das eleições, as atenções dos candidatos se voltam ainda mais para os institutos de pesquisas, na expectativa de divulgação dos últimos levantamentos. Por enquanto, entre os mais procurados, seis pesquisas eleitorais estão confirmadas, mas outras serão publicadas até o dia 2. Pela legislação, essa divulgação pode ser feita até no próprio dia da eleição, desde que tenham sido registradas pelo menos cinco dias antes – ou seja, até amanhã (26). Se a pesquisa for feita no mesmo dia, só pode ser divulgada depois de encerrada a votação.
No caso das eleições presidenciais, Ipec, Ipeste, PoderData e Quaest vão publicar resultados de seus levantamentos entre terça e quinta-feira (27 e 29). Na sexta e ontem (24), o Datafolha registrou pesquisas para Brasil, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Todas com divulgação prevista para quinta e sexta-feira (30), assim como o Ipespe, com mais dois levantamentos (Brasil e São Paulo).
A legislação autoriza divulgação de pesquisas eleitorais inclusive no dia 2. As de intenção de voto devem ter seu levantamento feito na véspera, enquanto as de boca de urna só podem sair após encerramento da votação em todo o país. Ou seja, no estados – para governadores e senadores –, a partir das 17h, horário local. E para presidente, a partir das 19h de Brasília (17h no Acre).
Já as enquetes e outras formas de sondagem sem reconhecimento científico estão proibidas desde 15 de agosto. Segundo a Resolução TSE 23.600/2019, enquete ou sondagem é “levantamento de opiniões sem plano amostral, que dependa da participação espontânea da parte interessada, e que não utilize método científico para sua realização, quando apresentados resultados que possibilitem à eleitora ou ao eleitor inferir a ordem das candidatas e dos candidatos na disputa”.
Contestação e ataques
O bunker bolsonorista sentiu os últimos resultados. Enquanto o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aliado do presidente, questionou o que chamou de “resultados divergentes”, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, chegou a sugerir fechamento de um instituto. Mas as divulgações mais recentes mostram convergência de dados. Entre Datafolha, Ipec, Ipespe e Quaest, por exemplo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se mantém com 44% a 47% das intenções de voto, enquanto Jair Bolsonaro (PL) vai de 31% a 35%. Na margem de erro.
A contestação ultrapassou, inclusive, a retórica. O instituto Datafolha reportou ameaças e ataques a alguns de seus pesquisadores nos últimos dias. O episódio mais grave, até agora, ocorreu em Ariranha, no interior paulista. Um eleitor bolsonarista agrediu um pesquisador, que escapou após intervenção de outros moradores. O agressor chegou a buscar uma faca, mas foi contido pelo filho.
Critério técnico
O ex-diretor da Datafolha Mauro Paulino, hoje comentarista da GloboNews, se solidarizou não apenas com os pesquisadores do instituto, mas de todos que sairão às ruas na próxima semana. E pediu para que não se intimidem. “Exerçam esse trabalho que nada mais é que um exemplo de exercício da democracia.”
Ele também comentou os critérios técnicos que dão lastro aos levantamentos. “Cada pesquisador sai com determinados perfis de eleitores, que eles vão entrevistar na sua tarefa. E eles precisam cumprir essas cotas, para que o desenho amostral seja respeitado”, observou Paulino.
Metodologia
De acordo com a Justiça Eleitoral, o registro da pesquisa deve informar quem contratou e quem pagou, com dados do CPF ou CNPJ. Também é preciso relatar o valor e a origem dos recursos, a metodologia usada e o período de realização do levantamento. Outros dados exigido são plano amostral, questionário completo e informações sobre margem de erro e nível de confiança, além do nome do estatístico responsável.
Ainda segundo o TSE, a divulgação de pesquisa fraudulenta constitui crime. A punição vai de seis meses a um ano de detenção, com multa cujos valores variam de R$ 53.205 a R$ 106.410.
A última semana de campanha pode ainda reservar surpresas em alguns colégios eleitorais, o que aumenta a expetativa pela divulgação nestes próximos dias. Na Bahia e no Ceará, por exemplo, institutos captaram mudanças de opinião. Na última sexta-feira (23), pesquisa Real Time Big Data (contratada pela Record TV) mostrou empate entre Capitão Wagner (UB) e Elmano Freitas (PT) na disputa pelo governo cearense, ambos com 31%. Mas em relação ao dia 13 Wagner perdeu cinco pontos e Elmano ganhou cinco. Ou seja, a diferença era de 10 pontos percentuais. O terceiro colocado é Roberto Cláudio (PDT), com 20%.
Foto principal: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Fonte: Rede Brasil Atual – RBA