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Pesquisadores denunciam Bolsonaro na Lancet por sabotagem e charlatanismo na pandemia

Foto: Marcos Corrêa – PR

A revista científica The Lancet, uma das mais prestigiadas do mundo, publicou um artigo de dois pesquisadores brasileiros denunciando a política genocida do governo de Jair Bolsonaro no combate à pandemia, quando optou por disseminar remédios sem eficácia contra a Covid-19 e sabotar políticas de distanciamento social e uso de máscara.

O pós-doutor em neurofisiologia, Leonardo Furlan, e o cardiologista e professor da Universidade de São Paulo (USP), Bruno Caramelli, acusam Jair Bolsonaro de ter feito “a promoção flagrante de drogas não comprovadas” contra Covid-19, como cloroquina e ivermectina, e ter praticado “sabotagem de intervenções consagradas, como distanciamento social, uso de máscara e vacinação, por outro lado”.

O resultado, como sabemos, foi de mais de 600 mil mortes pelo coronavírus no país.

O Brasil é, atualmente, o segundo país no total de mortes, atrás apenas dos Estados Unidos, cujo ex-presidente e aliado de Bolsonaro, Donald Trump, seguiu a mesma política na pandemia, e segundo lugar em mortes por milhão, atrás somente da Bulgária.

Os pesquisadores brasileiros citam que foi Donald Trump uma das primeiras lideranças mundiais a falar de cloroquina, logo nos primeiros meses da pandemia, para tentar passar a imagem de que o coronavírus não era perigoso.

“Essa ‘infusão da política na ciência’ provavelmente desencadeou o uso off-label [por fora da bula] generalizado de vários medicamentos contra a covid-19 em muitos países, inclusive nos EUA e no Brasil, apesar de a comunidade científica internacional desaconselhar esta prática”, afirmam.

No Brasil, foi formado um grupo chamado “Médicos pela Vida”, “uma associação médica criada para disseminar o ‘tratamento precoce’”, para defender o uso de cloroquina e outros medicamentos ineficazes.
O grupo se reuniu com Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto e o orientou a defender os medicamentos que não têm comprovação científica. Bolsonaro recebeu a orientação “com muita gratidão e entusiasmo”, contam.

“Através de cursos online, aparições na mídia convencional, um apoio explícito do governo federal e uma forte presença nas mídias sociais, o movimento ‘Médicos pela Vida’ tem influenciado muitas pessoas no país, não só profissionais da saúde, mas também a população leiga”, afirmam os cientistas no artigo.

“Em uma população politicamente inflamada e compreensivelmente assustada, na qual muitas pessoas têm dificuldades para fazer escolhas informadas em saúde, isso pode ter consequências catastróficas”, continuam.

“Com relação à ivermectina, têm havido relatos de diferentes países, inclusive do Brasil e dos EUA, de pessoas sendo hospitalizadas após se automedicarem e se intoxicarem com a droga”.
A política negacionista de Jair Bolsonaro teve amparo no Conselho Federal de Medicina (CFM), que, para defendê-la, disse que os médicos devem ter autonomia para recomendarem o que bem entendessem.

Leonardo Furlan e Bruno Caramelli acreditam que o CFM deveria se posicionar e banir as práticas não amparadas pela ciência do tratamento contra Covid-19.

Leonardo Furlan explicou que o artigo publicado na Lancet tinha a intenção de “chamar a atenção do mundo, especialmente da comunidade médico-científica, para um problema que, conforme relatado no texto, apesar de estar ocorrendo também em outros países, no Brasil tomou proporções absurdas”.

“Denúncias e relatos desse tipo podem levar direta ou indiretamente a alguma forma de pressão internacional sobre o Brasil em relação a essa questão do manejo equivocado da Covid-19, que não só coloca a própria população brasileira em risco, como também transforma o país em uma ameaça à saúde pública global”, acrescentou.

O professor da USP, Bruno Caramelli, entrou com uma representação no Ministério Público Federal (MPF) para que o CFM seja investigado pelo apoio anticientífico ao chamado ‘tratamento precoce’ e ao uso de medicamentos ineficazes no combate ao coronavírus.

Um inquérito foi aberto pelo MPF.

Fonte: Hora do Povo