Trabalhadores da educação idosos reivindicam direito a ‘home office’ após mortes de duas servidoras
Por Rodrigo Gomes, da Rede Brasil Atual – RBA
Foto: Prefeitura de São Caetano do Sul/Direitos Reservados
Governo Campanella só permitiu home office de parte dos servidores da educação após professora grávida ser internada com covid-19, mas não evitou mortes
Trabalhadores da educação de São Caetano do Sul, no ABC paulista, voltam a reivindicar do prefeito Tite Campanella (Cidadania) o direito a atuar em home office após as mortes de duas servidoras da educação pelo novo coronavírus. Maria José da Silva, merendeira na Escola Municipal 28 de Julho, e Elizabeth Zacaleski Veloso, professora na Escola Municipal Alcina Dantas Feijão, ambas com mais de 60 anos, morreram de complicações da covid-19, na semana passada. Maria José atuava em esquema de revezamento na unidade, mesmo com as aulas suspensas. Elizabeth foi contaminada na última semana de aulas, antes da suspensão das atividades devido ao agravamento da pandemia.
O governo Campanella é o único na Grande São Paulo a não autorizar que servidores idosos possam atuar em home office. Antes, inclusive, nem mesmo pessoas com risco para a covid-19, devido a comorbidades, ou grávidas, podiam requerer o trabalho remoto. Isso mudou depois que a professora Rafaela de Ávila Cardoso, grávida de 8 meses, foi internada para monitorando sinais vitais dela e de sua bebê, devido à contaminação pelo novo coronavírus. Ela trabalha na Escola Municipal Luiz Olinto Tortorello e relatou que voltou à escola em 5 de fevereiro por pressão, já que não teve aceitos seus pedidos para manter-se em home office.
Sob risco de contaminação
No entanto, apesar dessa mudança, os servidores idosos não foram incluídos na portaria que autorizou a requisição de atuar em home office. Com a suspensão das aulas em 15 de março, devido ao agravamento da pandemia de covid-19 em São Paulo, os professores foram autorizados a atuar no ensino remoto. Mas os demais trabalhadores da educação seguem em trabalho presencial, ainda que em esquema de revezamento, tendo de utilizar o transporte coletivo e se expondo ao risco de contaminação.
“Quem responderá por essas mortes? Por que apenas a Prefeitura de São Caetano do Sul impôs atividades presenciais aos servidores com mais de 60 anos, às servidoras gestantes e àqueles que apresentam comorbidades? Com quais objetivos a Secretaria de Educação do Município insistiu em aulas físicas, mesmo diante da baixíssima adesão dos estudantes e de seus familiares? Quem dará respaldo (psicológico, emocional e econômico) às famílias de Maria José da Silva e Elizabeth Zacaleski Veloso?”, questionam os trabalhadores da educação, em carta encaminhada ao governo Campanella.
Vacilo perigoso
A prefeitura não se manifestou sobre a situação. Até agora, a prefeitura também não autorizou a volta às aulas, mesmo com autorização do governo estadual. Para a professora Mariana Bonotto, membro da Associação dos Profissionais da Educação de São Caetano do Sul (Aspescs), avalia que a prefeitura agora hesita em retomar as atividades presenciais, mas não resolve o problema dos servidores que seguem em trabalho presencial. O que pode levar a mais mortes na educação.
“Os professores estão em trabalho remoto, mas secretaria, inspetor, merendeira, pessoal de limpeza, porteiro, coordenação, direção e até coordenação de área estão fazendo plantão. Maria José foi contaminada dando plantão na escola. E continuou indo para a escola, pode ter contaminado outras pessoas. Nos preocupamos com as categorias que ainda estão no presencial. Ainda existe um risco muito grande para os funcionários que estão sendo obrigados a trabalhar nesse formato”, disse Mariana.