Ascensão da direita coincide com o aumento da pobreza extrema no Brasil
Por Carolina Maria Ruy
Conclusões tiradas da combinação entre o levantamento da Folha sobre políticos em evidência em 2012 e em 2020 e um estudo sobre aumento da extrema pobreza, realizado pelo IBGE no fim de 2019, revelam que as mudanças de tendências no cenário político foram prejudiciais para a população mais carente.
A matéria “De 2012 a 2020, a política brasileira virou de ponta-cabeça; veja o que mudou para as figuras do poder” publicada na Folha de São Paulo nesta terça (13) apresenta um levantamento sobre os nomes que, segundo o jornal, dominavam a política no Brasil há oito anos e hoje. 2012, vale notar, também foi um ano de eleições municipais.
Conforme o levantamento do jornal estes nomes, em 2012, eram:
- 4 do PT
- 4 do PSDB
- 3 do MDB
- 1 da Rede
- 1 do PSB
E, em 2020, são:
- 2 do PT
- 1 do PSDB
- 1 do PDT
- 2 do DEM
- 1 do PCDOB
- 1 do PRTB
- 3 sem partido
Pela esquerda, em 2012, haviam 3 partidos e 6 nomes (considerando o Rede), e em 2020, 3 partidos e 4 nomes.
Pela direita, em 2012 haviam 2 partidos (PSDB e MDB) e 4 nomes, e em 2020, 3 partidos e 7 nomes (considerando de direita os sem partidos).
Nestes 8 anos o MDB e PSB sumiram do levantamento apresentado pela Folha. O mesmo vale para o PSDB que se mantém unicamente com o nome do governador de São Paulo, João Dória, que ganhou espaço no partido na mesma medida em que velhos tucanos com Geraldo Alckmin e José Serra foram sendo deixados de escanteio.
Os partidos PDT e PCdoB tiveram maior projeção, sobretudo nas figuras de Ciro e Dino
O que não é nenhuma novidade, mas é bom ressaltar, é o crescimento da extrema direita. Uma direita muito mais radical que a de 2012 (MDB era governo). E o crescimento dos nomes sem partido.
Vale também apontar o surgimento de políticos que se projetaram nacionalmente na esteira da popularidade de Jair Bolsonaro, como Janaina Paschoal, Joice Hasselmann, além dos filhos do presidente, Flávio, Eduardo e Carlos. Neste sentido, no campo progressista, nomes como Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela d’Ávila (PCdoB), que não aparecem na matéria, também ganharam força nos últimos anos. O nome mais forte da esquerda hoje continua sendo o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, por enquanto, está inelegível.
A matéria atribui às manifestações de junho de 2013 o ponto de reversão do cenário político.
Aquele movimento sofreu a metamorfose de um protesto legítimo, popular e espontâneo, para uma massa de manobra inflada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com um perfil elitizado.
Temas como PECs 37 e 33, “cura” gay, gastos com a Copa das Confederações de 2013 e com a Copa do Mundo de 2014 e o fim da corrupção passaram a dar o tom dos protestos. De fato, aqueles protestos foram o embrião da Lava Jato, do impeachment de Dilma Rousseff e da ascensão da extrema direita.
Aumento da pobreza
Não por acaso, neste mesmo período houve um expressivo aumento da pobreza no país. Segundo um estudo do IBGE divulgado em novembro de 2019, portanto anterior à pandemia, em 2018, chegou a 13,5 milhões o número de brasileiros vivendo abaixo da linha da extrema pobreza – 4,5 milhões a mais que em 2014, quando o país vivia sob os patamares mais baixos de desemprego.
Foi o maior contingente de pessoas vivendo abaixo da linha da extrema pobreza (quem dispõe de menos de US$ 1,90 por dia, o que equivale a aproximadamente R$ 145 por mês conforme estabelecido pelo Banco Mundial) desde o início da série histórica do IBGE, iniciada em 2012.
O estudo apontou ainda que entre 2012 e 2014 “o dinamismo do mercado de trabalho se traduziu em crescimento do rendimento médio do trabalho” e que a população de renda mais baixa teve aumento mais expressivo do rendimento médio domiciliar per capita que o grupo que apresenta as rendas mais altas.
Depois de 2015, entretanto, o quadro se inverteu e o resfriamento da economia resultou em piores rendimentos para os mais pobres. “Até 2015 a gente vê queda da desigualdade. Isso tem a ver com um crescimento maior da renda dos 40% com menores rendimentos que a dos 10% com maiores rendimentos. Com a crise econômica a partir de 2015, esses indicadores voltam a crescer até atingirem o maior valor em 2018”, apontou o gerente do estudo André Simões.
Considerando apenas o rendimento proveniente do trabalho, o IBGE destacou que, em 2018, o grupo dos 10% com maiores rendimentos ganhava 13 vezes mais que o grupo dos 40% com os menores rendimentos.
Cronologia do aumento da pobreza
Em 2012 Dilma Rousseff (PT) estava no segundo ano de seu primeiro mandato como presidente da República. Naquela época, estava em vigor uma política de valorização do salário mínimo “adotada desde 2004 e estabelecida por lei desde 2007. A fórmula, negociada pelas centrais sindicais com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, previa um mecanismo de valorização que repunha as perdas inflacionárias desde o último reajuste, pelo INPC; concedia aumento real de acordo com o crescimento do PIB referente ao ano anterior; e antecipava gradativamente, a cada ano, a data de reajuste, até fixá-la em 1º de janeiro” (ver matéria Governo Bolsonaro acaba com política de valorização do salário mínimo). Esta política foi cortada pelo governo Bolsonaro em 2019.
A presidente se reelegeu em 2014, já em uma situação de acirramento impulsionada pelas manifestações de 2013 e pelo advento da Lava Jato em 2014. Em 2016 ela foi afastada por impeachment, mesmo sem a comprovação de crime de responsabilidade. O vice Michel Temer assumiu no fim de 2016 e fez a reforma trabalhista em 2017. Após uma intensa campanha da imprensa e setores da elite financeira para destruir a esquerda brasileira, Jair Bolsonaro foi eleito em 2018 e o país entrou, cada vez mais, em uma situação de recessão e instabilidade, com os níveis mais alarmantes da história.
Já no fim de 2020, após atravessar uma má administrada situação de pandemia e de fechamento do comércio, a perspectiva é de dobrar o contingente de brasileiros em situação de extrema pobreza.
Reprodução: Rádio Peão Brasil