Artigo: Mariana, uma tragédia anunciada
Cosme Nogueira
Presidente da FESERP-MG
A barbárie causada pelo rompimento da barragem de Mariana é, sem dúvida alguma, o maior crime já cometido contra o meio ambiente no Brasil. Citamos a palavra crime, pois não concordamos quando usam o argumento de um acidente, pois acidente é o inesperado, aquilo que não se prevê. Já no caso do rompimento da barragem, o diagnóstico é um só: irresponsabilidade. Todas as investigações e depoimentos mostram que havia uma sobrecarga ou saturamento na barragem. Será que a direção da Samarco não sabia disso? E se sabia, porque não tomou as devidas providências?
É evidente que eles tinham total conhecimento da real situação, mas não fizeram nada para evitar, pois a filosofia de gestão da empresa é o lucro acima de tudo, aliado ao sentimento de impunidade que paira sobre o país, principalmente com o sucateamento dos órgãos de fiscalização, que deveriam estar bem preparados para agir com rigor em defesa da sociedade, evitando assim que crimes como esse ocorram.
Afirmamos que a tragédia de Mariana foi anunciada também quando o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) privatizou a Companhia Vale do Rio Doce, passando de bandeja para a iniciativa privada o controle da exploração das riquezas minerais do nosso país. Este é o preço que pagamos – e olha que pagamos muito alto! – por este conceito privatista e entreguista que só visa o lucro e mais nada.
O crime do rompimento da barragem de Mariana devastou e soterrou lugares e assassinou pessoas inocentes. Por onde a lama passou ela deixou um rastro de devastação, atingindo cidades e destruindo a bacia hidrográfica do Rio Doce, prejudicando mais de 3,5 milhões de pessoas. Uma população sem água para beber, uma população que presencia a morte da fauna e da flora do Rio Doce, um povo acostumado a vivenciar e a contemplar a beleza histórica de um rio, pessoas que retiravam deste grandioso rio o seu sustento… Agora só se vê lamento, sofrimento e dor;
E há ainda a sensação de impunidade. Não acreditamos em punição, pois no nosso país não existe punição para ricos e poderosos. Essas multas aplicadas à empresa provavelmente não serão pagas, pois só pobre paga multa no Brasil. Os empresários capitalistas já estão fazendo o jogo da chantagem, argumentando que caso a punição seja alta pode comprometer a continuidade das atividades e a manutenção dos empregos. Tudo isso faz parte do jogo, para impor através do poder econômico um “cala boca”.
A saída para essa grave situação, a única resposta de punição para esse crime está no processo de reestatização da Vale, ex-Companhia Vale do Rio Doce, e suas subsidiárias. Não há melhor momento para reestatizar a Vale do que agora. Motivos o Governo tem de sobra: Ineficiência de gestão, irresponsabilidade, sucateamento, ameaça à segurança e à qualidade de vida dos brasileiros. Com a reestatização, os investimentos continuam, os empregos estão garantidos e o controle da exploração das riquezas do Brasil retorna para o governo e a sociedade.
A lama que vaza pela barragem não soterra apenas as casas e matam as pessoas, mas soterra histórias de famílias e lugares, devastam a dignidade de um povo.
Mas, o mar de lama que impera no Brasil de hoje não pode nos tirar a esperança e a vontade de lutar, por um Brasil livre.